sexta-feira, 25 de maio de 2007

A "pérola" de Mário Lino


Os ministros do governo de Sócrates têm-se tornado exímios em dar "pérolas" à Comunicação Social para que esta ganhe mais uns pontos percentuais de audiências... Até o próprio Primeiro-Ministro não escapa à onda das "pérolas", uma vez que ele espera que Portugal se torne "um país mais pobre". No entanto, há que distinguir entre gafes (trocar o "próspero" pelo "pobre") de autênticas falhas de pensamento (ou se quisermos, autênticas formas de pensar retrógadas).
Há, no entanto de fazer aqui um "mea culpa". A Comunicação Social efectivamente deturpou o sentido da exposição do Ministro das Obras Públicas, Mário Lino. É completamente perceptível na reportagem integral do seu discurso no almoço da Ordem dos Economistas que o "deserto" de Mário Lino na Margem Sul compreende tão e somente as localidades de Rio Frio, Poceirão e Faias e, portanto, não é toda a Margem Sul um deserto para o ministro.
Mas será que isso é desculpa para um elemento dum órgão de soberania do Estado Português? É razoável compreender por toda a gesticulação do ministro na sua palestra que se estava num almoço descontraído e nada formal, no entanto isso não desculpa o facto de um ministro dizer em público que existe um Portugal de primeira e um Portugal de segunda e foi isso mesmo que Mário Lino fez. Ao afirmar que naquelas três localidades não há gente, não há nada, é só deserto (no entanto, curiosamente, essas localidades já se fizeram ouvir, se calhar pediram "gente emprestada" às localidades vizinhas...), Mário Lino afirmou de que não vale a pena fazer investimentos em locais que não têm infraestruturas, sendo isso uma autêntica antítese da finalidade dos investimentos que é precisamente dotar determinado objecto/local de mais infraestruturas/capacidades. Ora um aeroporto num local pouco desenvolvido não iria propiciar a um maior desenvolvimento dessa zona, trazendo investidores para construir hospitais, hóteis, habitações, etc..., que Lino tanto criticou de não existirem?
Mário Lino deve ser demitido sem sombra de dúvida, não pelo simples desprezo pela Margem Sul (corrijo: pelas localidades de Rio Frio, Poceirão e Faias), mas sim pelo carácter seu que o ministro revela nesse desprezo: É um ministro dominado pela mentalidade do "investir sobre investimentos de investimentos" ou, se quisermos, a mentalidade do "Portugal é Lisboa, um bocadinho do Porto e o resto é miragem". E esta mentalidade é a antítese de uma outra mentalidade, moderna e urgente para o nosso país, que tem de ser exigida impreterívelmente aos nossos ministros, de um desenvolvimento regional íntegro, de modo a diminuir as diferenças Litoral/Interior. E, mais grave do que isso, demonstra uma atitude completamente arrogante e, acima de tudo, irresponsável, pois é exigido a um ministro uma postura mais rígida e não tão à vontade como aquela que o ministro revelou no dito almoço, pelo menos em frente às câmaras. Não está apto para o cargo que foi nomeado!
É mais uma "pérola" a acrescentar às muitas que Sócrates tem no seu executivo (a de Manuel Pinho sobre a mão-de-obra barata portuguesa não poderá ser uma questão fácilmente comparável a esta?) e óbvio está que Lino não irá ser demitido ou se irá demitir, pelo menos até o projecto da OTA começar a todo o gás.
E, entretanto, toda a polémica será esquecida (voluntária ou involuntáriamente pela Comunicação Social) como já é habitual nos precalços deste executivo socialista.

4 comentários:

White Castle disse...

Qd eu ouvi o mais pobre grizei-me!!! De facto, as 3 pérolas que referes são o mote para dizer: fugiu-lhe a boca para a verdade!

Anónimo disse...

O que mais surpreende é ter à frente dos destinos do país quem justifica o investimento numa OTA, ou noutra coisa qualquer, porque "...entre Setúbal e Leiria [+/- 170 km] está 40% da população portuguesa...". Ou seja, parece-lhes natural que 4 milhões em 10 estejam empilhados num décimo da área do país...(a fazer as contas pelo largo). Portanto, vamos lá a arranjar mais motivos para que esses 4 milhões passem para 5 ou mais, mesmo que isso provoque um compromisso económico do país para os próximos 40 anos... e ajude a manter um desiquilíbrio entre o rendimento da AML e o resto do país de quase 2 para 1...
E quanto à definição de "Projectos Nacionais", como o CCB, a EXPO98, os estádios do Euro2004 etc, gostava de saber quantos turistas vêm cá por causa do Pavilhão Atlântico, do Estádio Algarve ou dos concertos em Belém. Ou ainda, de outra maneira, quantos decidiram vir até cá porque se lembram que o Euro ou a Expo foram em Portugal. Alguém já marcou férias em Espanha ou Itália por causa dos equivalentes que lá se realizaram? Então porque raio é que os outros haveriam de o fazer???

Ass: Anónimo1

João Fachana disse...

Subscrevo inteiramente a vossa opinião, White Castle e Anónimo1!

Anónimo disse...

Estou Absolutamente de acordo cm a vossa opinião! Cada vez me questiono mais sobre a racionalidade desta questao... se é k existe alguma d facto!
É com imensa pena minha que as directivas adoptadas nao tendem a concentrar-se nas carencias urgentes deste país!