Folha de Papel...
Não gosto da minha sociedade, é muito confusa para mim, ou sou eu que sou demasiado esquisito para ela. Eu penso que não devia estar aqui, nesta folha de papel. Às vezes penso que não devia ter sido criado, não nesta folha de papel. O único sentimento que flui pela tinta que me escreveu é o desejo de me libertar desta folha.
Algumas letras magoaram-me, outras humilharam-me, algumas como o M usam o seu tamanho para se porem em cima dos outros, para “taparem” as letras mais frágeis, mais pequenas. Eu sou uma dessas. Sou um pequeno e fino “i”, esmagado por dois gigantes “M”s, que juntos formamos a palavra “mim”. Mas não podemos deitar a culpa toda para os “M”s. Ainda existem os “U”s e os “C”s, peritos em formarem duplas personalidades. Basta ao “U” deitar-se para formar um “C” e ao “C” levantar-se para formar um “U”. Nenhuma letra deve confiar num “C” ou num “U”, pois no momento certo eles mudam de forma, e, amizades que à primeira vista parecem ser boas, depressa se tornam falsas e enjoativas. E podem crer que elas mudam de forma tão depressa quanto eu estou a escrever estas míseras linhas. No entanto, nem o “C” nem o “U” são tão perigosas como o “S”. O “S”, com a forma de uma serpente, também age como se fosse uma serpente de verdade. Ela torna-se amiga de outra letra, estuda-a cuidadosamente, conhece os seus pontos fracos e, no momento certo, e quando a letra apanhada neste esquema diabólico menos espera, ataca cruelmente, pronta a destruir a vida da sua vítima por completo.
Muitas letras más ficaram por dizer. Mas esta folha de papel não é feita apenas desse tipo de letras. Também existem letras boas. Como por exemplo o “J” ou o “L”, que têm um braço sempre pronto a apanhar quem cai, ou a confortar quem se sente mal. O “T” até dá os dois para ajudar. Sim, existem letras boas. Se não fossem essas letras, talvez nesta folha de papel só estivessem escritas palavras inúteis.
Mas eu não me incluo em nenhum dos dois grupos. Acho que os “i”s são diferentes. Quase todas as letras, senão todas excepto os “i”s, conseguem dar-se bem nesta folha. Os “i”s não. Os “i”s anseiam por sair desta folha de papel, descobrir novas coisas, descobrir o local onde serão verdadeiramente felizes. Quanto a mim, ao “i” em particular que sou, sinto que não vou encontrar esse local noutras folhas de papel do mesmo livro do qual esta folha faz parte. Terei talvez de ser escrita noutro livro, se existirem outros livros. Sei que pelo menos existe mais um livro. O livro para onde vão as letras que se apagam deste.
Mas isso só deve acontecer quando for a altura para acontecer. Não devo acelerar o processo. Espero ganhar a coragem e força suficientes para ir saltando pelas páginas deste livro. E talvez encontre uma na qual me acomode… E talvez não. Talvez existam outros livros para além deste e do das letras apagadas. Espero encontrar a minha felicidade num deles. Se descobrir que apenas existem estes dois livros… Bom, só me resta ser apagada daqui. Mas não vou acelerar o processo como já disse. Não apenas porque até tal acontecer ainda existe esperança, mas também porque… Decerto que quem fosse a ler esta página, não ia gostar de ver uma letra apagada no meio de uma palavra!
Algumas letras magoaram-me, outras humilharam-me, algumas como o M usam o seu tamanho para se porem em cima dos outros, para “taparem” as letras mais frágeis, mais pequenas. Eu sou uma dessas. Sou um pequeno e fino “i”, esmagado por dois gigantes “M”s, que juntos formamos a palavra “mim”. Mas não podemos deitar a culpa toda para os “M”s. Ainda existem os “U”s e os “C”s, peritos em formarem duplas personalidades. Basta ao “U” deitar-se para formar um “C” e ao “C” levantar-se para formar um “U”. Nenhuma letra deve confiar num “C” ou num “U”, pois no momento certo eles mudam de forma, e, amizades que à primeira vista parecem ser boas, depressa se tornam falsas e enjoativas. E podem crer que elas mudam de forma tão depressa quanto eu estou a escrever estas míseras linhas. No entanto, nem o “C” nem o “U” são tão perigosas como o “S”. O “S”, com a forma de uma serpente, também age como se fosse uma serpente de verdade. Ela torna-se amiga de outra letra, estuda-a cuidadosamente, conhece os seus pontos fracos e, no momento certo, e quando a letra apanhada neste esquema diabólico menos espera, ataca cruelmente, pronta a destruir a vida da sua vítima por completo.
Muitas letras más ficaram por dizer. Mas esta folha de papel não é feita apenas desse tipo de letras. Também existem letras boas. Como por exemplo o “J” ou o “L”, que têm um braço sempre pronto a apanhar quem cai, ou a confortar quem se sente mal. O “T” até dá os dois para ajudar. Sim, existem letras boas. Se não fossem essas letras, talvez nesta folha de papel só estivessem escritas palavras inúteis.
Mas eu não me incluo em nenhum dos dois grupos. Acho que os “i”s são diferentes. Quase todas as letras, senão todas excepto os “i”s, conseguem dar-se bem nesta folha. Os “i”s não. Os “i”s anseiam por sair desta folha de papel, descobrir novas coisas, descobrir o local onde serão verdadeiramente felizes. Quanto a mim, ao “i” em particular que sou, sinto que não vou encontrar esse local noutras folhas de papel do mesmo livro do qual esta folha faz parte. Terei talvez de ser escrita noutro livro, se existirem outros livros. Sei que pelo menos existe mais um livro. O livro para onde vão as letras que se apagam deste.
Mas isso só deve acontecer quando for a altura para acontecer. Não devo acelerar o processo. Espero ganhar a coragem e força suficientes para ir saltando pelas páginas deste livro. E talvez encontre uma na qual me acomode… E talvez não. Talvez existam outros livros para além deste e do das letras apagadas. Espero encontrar a minha felicidade num deles. Se descobrir que apenas existem estes dois livros… Bom, só me resta ser apagada daqui. Mas não vou acelerar o processo como já disse. Não apenas porque até tal acontecer ainda existe esperança, mas também porque… Decerto que quem fosse a ler esta página, não ia gostar de ver uma letra apagada no meio de uma palavra!
i
(2003)
(2003)
2 comentários:
Gostei mt do texto,mm..
Nunca t acomodes a nenhuma página e a nenhum livro... Faz das tuas letras o teu caminho, e do teu caminho a tua leitura... Continua a ser sempre tu!! =D beesoo**
Eu? Quem disse que fui eu que escrevi o texto? K eu saiba foi o "i";)
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