segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Para Reflectir (III)

Eutanásia
O Sol acabava de nascer, o orvalho fresco a gotejar entre as folhas das plantas. Ele estava em casa dos seus avós, eles ainda a dormir. O avô roncava, a avó dormia calmamente. Foi para a sala, ligou a televisão, a ver se já estavam a dar bonecos. Mas não. Eram seis e meia, ainda vendiam a varinha mágica XPTO da “Ideia Casa”. Ouviu um piar baixo e melancólico. Vinha do jardim, onde costumava brincar todos os dias em que os pais o deixavam na casa dos avós. Desceu as escadas, quase que caía delas, tal era a pressa com que andava. Abriu a porta, cruzou a esquina da casa e dirigiu-se ao jardim, procurando o autor daquele pio.
Não ouviu mais nenhum pio. Embrenhou-se na pequena floresta de plantas selvagens que estavam ao fundo do jardim, até chegar a uma grande árvore de copa alta. Olhou para cima. Um ninho. Vazio.
Olhou para baixo, à beira do tronco da árvore, um passarinho. Tinha a asa partida. Provavelmente caíra do ninho. Já não sofria, estava morto. As formigas não tardaram a vir e começaram a comer o pequeno. Pouparam-lhe o sofrimento de umas longas horas à espera da morte inevitável, ou mataram-no elas, quando o pássaro ainda tinha salvação?
Ele fez uma pequena cova, junto ao corpo do pássaro. Sacudiu o corpo das formigas, já tinham comido o suficiente, pegou nele e colocou-o na cova. Com as duas mãos cobriu a cova com terra e, depois, alisou-a suavemente com as mãos.
A avó aproximou-se dele. Tinha visto tudo também, pois acordara ao ouvir a porta de casa a abrir de rompante. Tão jovem o míudo, tal como o pássaro que jazia morto naquela cova, destino fatal por ainda não saber voar.
Tão jovem o míudo e já a saber o significado da palavra Eutanásia…


J.F.C.

19/07/07

1 comentário:

Anónimo disse...

Continua a seres como és...

Anónimo1